Por Daniel Batista
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(Estagiário sob supervisão de Débora Borba)

Uma trajetória que começou há 50 anos, terminou no último dia 30 de agosto. Aos 69 anos, 11 meses e 20 dias, Shirley da Silva Souza se dirigiu ao Hemocentro Regional de Pelotas para doar sangue pela última vez. Na ocasião, a idosa se tornou a primeira mulher a doar no Hemopel com a idade limite definida pelo Ministério da Saúde.

Natural de São Lourenço do Sul, a idosa começou a doar aos 19 anos para ajudar uma irmã. “Tinha medo de injeção, mas não de doar sangue”, revela Shirley. Após o casamento, aos 21 anos, mudou-se para Pelotas e passou a abastecer os estoques de sangue dos hospitais do município sempre que ouvia de amigos, vizinhos ou familiares que alguém precisava de ajuda. Com o sangue do tipo O negativo, considerado doador universal, conta que passou a sempre ser chamada, indo como doadora de reposição, quando a ação é dirigida a um paciente, ou como doadora voluntária. “Onde tinha uma pessoa que precisasse eu ajudava.”

A idosa realizava as doações sempre que podia e marcava até no calendário o intervalo recomendado entre as doações, que de acordo com o Ministério da Saúde (MS), é de 90 dias, com o máximo de três doações ao ano. Quando não podia fazer, a lourenciana mobilizava conhecidos e até desconhecidos para ajudar a quem precisasse. Ela recorda do período em que a irmã estava em tratamento de um câncer, e necessitava de bolsas de sangue. Para ajudá-la, andou pela cidade com o intuito de conseguir doadores de sangue, e conseguiu quantidade significativa em um quartel do Corpo de Bombeiros.

Conforme uma portaria publicada em 2013 pelo MS, a idade limite para doação de sangue passou a ser de 69 anos. Com isso, a doadora, que completou quase sete décadas de vida em 9 de setembro, não poderá mais doar. Durante a visita da reportagem, ela mostrou com grande carinho as fotos da ocasião em que doou sangue pela última vez. “Eu queria tanto seguir doando, para mim é uma paixão” releva Shirley, que pretende continuar mobilizando pessoas para fazerem o gesto, inclusive a filha Tatiana Souza. “Ela sempre fala que vai, mas nunca vai”, conta.

A coordenadora do Hemopel, Gisele Pinto, lembra que um dos objetivos da limitação por idade até 69 anos é garantir a saúde e o bem-estar do doador, e que atitudes como a de Shirley poderiam ser repetidas. “É um exemplo”, lembra. No sistema de registros do Hemocentro, que teve início em 2010, constam oito doações em nome da mulher, mas a idosa afirma que foram inúmeras, muitas também em outros locais. “Perdi as contas de quantas já fiz”, revela. Segundo o MS, uma bolsa de sangue pode salvar até quatro vidas. Dessa forma, nos últimos nove anos, Shirley já ajudou 32 pessoas somente com as doações feitas ao Hemopel.

Doe sangue
O Hemocentro Regional de Pelotas abastece o Hospital São Francisco de Paula (HUSFP/UCPel), o Pronto-Socorro (PS) e a Beneficência Portuguesa, além de outros 13 municípios da região. As doações podem ser realizadas de segunda a sexta, das 8h às 18h. Também é possível realizar o cadastro para doação de medula óssea. Em razão da greve dos servidores municipais, o centro está funcionando das 11h às 15h, até hoje, data de nova assembleia do Simp. O Hemopel fica na avenida Bento Gonçalves, 4.569. Mais informações: (53) 3222-3002.

Quem pode doar?
Para doar sangue, a pessoa deve estar enquadrada dentro de algumas características específicas, de acordo com o Ministério da Saúde (MS). Entre elas, os interessados precisam ter entre 18 e 69 anos. Adolescentes entre 16 e 17 anos podem doar, desde que acompanhados de uma autorização dos pais. Pessoas com mais de 60 anos só podem doar se já tiverem realizado o procedimento antes. Também é preciso pesar mais de 50 quilos, estar alimentado, evitar a ingestão de alimentos gordurosos nas três horas anteriores à doação e ter dormido ao menos seis horas nas últimas 24 horas. Além disso, é preciso que a pessoa não tenha ingerido bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação. Pessoas com hepatite B, hepatite C, doença de Chagas, malária, sífilis, Aids (HIV), HTLV não podem realizar as doações. Em caso de gripe, febre ou resfriado é preciso esperar sete dias após o desaparecimento dos sintomas. Após uma doação, as mulheres devem esperar 90 dias para fazê-la novamente; enquanto os homens devem esperar 60 dias.